03 novembro 2009

Para um amor vegetariano...

Saudade, bichinho arredio.
Dificuldade de relatar sem me exibir.
Fazem dez anos, mas ainda assim tem a capacidade de doer ao ser lembrado. E me atrevo (mesmo sem a formação adequada para tanto) a vincular algumas deformações que eu apresento em meu caráter a essa série de "não acontecimentos" da qual eu falo a seguir.
É um história enfadonha de não realização. Cansativa, igualzinha a de um monte de gente por aí... A história de um amor puro e muito bobo, que não sabia infelizmente a força criadura que possuia e tão pouco como a partir daí  passaria a desconstruir tudo (para não dizer liquidar!) e habituar-se a não ter, a não achar que pode ou que merece.
São desta época as únicas poesias honestas que foram escritas, mas que seriam não honestamente reformadas todas as vezes se inventasse um novo amor. Todas! Orignalmente escritas para ele... Surpresa! Nenhum de vocês outros me inspiraram a tanto. Mas tudo bem, eu os deixo exibi-las por aí como autênticas provas de que foram amados por mim....
"A desgraça é que tudo é lembrança!" e o que o trouxe a tona de novo foi um filme que eu já havia visto mais de uma vez, e mais de uma vez me emocionado. Chama-se Nunca fui beijada... comédia romântica típica, nada de especial. Exceto uma citação da atriz principal no fim do filme,que emociona por que é verdade e embora o filme seja do ano de 1999 é muito óbvio e sempre atual. É sobre o fato de toda menina ter um garoto por quem vai escola todos os dias... (com a voz da Drew Barrymore narrando e trilha sonora fica muito emocionante mesmo! Eu juro!) bem, este garoto era você. E para meu horror isso não era segredo para ninguém. Sabia que ainda hoje pessoas que nos conheceram juntos ligam a minha história a sua? Vez ou outra sou perguntada sobre você como se a gente jamais tivesse deixado de coexistir. Tamanha a força daquilo que nós nem vivemos plenamente.
Alguém dirá que essa é a coisa mais natural do mundo, nada original e que todos os dias em colégios no mundo inteiro estão se formando jovens casais.
Algo que aconteceu há mais de dez anos, nem mereceria ser aqui relembrado. Mas eu insisto que merece! O "não-ocorrido" hoje mais do que nunca experimenta importância.
O que nós não fizemos e eu depois fiz inúmeras vezes sem você poderia sim ter mudado o rumo da minha história (e, Deus! De tanta gente...)
Por que, se nós já tivessemos feito eu não conheceria o cara com quem eu também não fiz (não como se deve) por que ainda esperava fazer com você, e com quem por isso eu resolvi apelar para formas "alternativas". Que transformou hoje, o fazer em um inferno! (Pausa para fumar um cigarro, a pior coisa que aprendi a fazer depois de você. Mas a respeito disso eu ainda não sei vou como responsabiliza-lo)
Outro exemplo, esse homem que eu hoje tenho cativo, só me idolatra  pela minha coleção de erros graves e falhas de carater. E esta "invejavel" coleção (que eu insisto em chamar de autenticidade e que acaba sendo o que eu tenho de melhor infelizmente) eu só adquiri tirando o atraso de coisas que eu deseja mas reprimia no tempo que nós coexistimos, e passando a pratica-las em escala industrial.
Você hoje figura num seleto grupo de pessoas que não me amaram com angústia, é minha lembrança mais bonita, de um tempo em que pré-requisito pra uma música ser boa ou não era o fato de estar cantando o amor que eu achava que vivia.
Faltava ali maturidade pra lidar com algo tão imenso (Por que quando a gente é pequeno tudo parece enorme!) maturidade essa que me vem e volta ainda hoje.
Faltava a tal autenticidade que ironicamente só adquiri por que cheguei a conclusão que não fizemos, que não fomos, por que eu não a possuia.
Me lembro de ter caçado você muitas vezes quando eu já estava de posse dela.
Eu ia a qualquer lugar onde me dissessem que você poderia estar, vestindo invariavelmente a minha tão sonhada autenticidade, as coisas novas que eu tinha aprendido, um vestido curto e alguma coisa de strass.
Foram raras as vezes em que fui presenteada com um reencontro, e todas as vezes revelavam que eu nunca estive pronta pra você. Eu não poderia receber você nem aos 40. Seria até criminoso da sua parte... por que diante de você eu jamais deixei de ter no máximo 17.
Eu ainda sou quando penso em você, como agora, a menina bonita e sem consciência disso que você abraçou quando nos despedimos na formatura.
Nós não fizemos. E mais tarde eu fiz com todo mundo. Era simples demais... por razões variadas ou sem nenhuma razão. Eu só não fiz com você!
Uma perna para o lado, a outra pro outro... e receber em mim a única coisa de você que ainda não conhecia. Eu provavelmente não gosaria, por que estaria muito preocupada em te imprecionar. Foi exatamente assim quando aconteceu, só que sem você.
Eu tinha medo do que você representaria para mim se um dia fisessemos. Que tolice! Não fizemos e você ainda assim representa muito, talvez bem mais do que se tivessemos feito. Por que se assim o fosse você seria simplesmente o primeiro.
Não fizemos, e você vai ser pra sempre a história de uma triste amputação.
Sim. Por que foi isso que aconteceu depois. Esse é o resto da história se ela for contada por alguém mais sincero que eu.
Por que aquela menina teve seu coração amputado. E com ele a sua pureza (justamente a que ela achava que perderia em seus braços, e teve medo) e não só... em suas andanças deixou cair por aí a sua capacidade de ser fiel por mais que goste. Ela se tornou uma paraplégica sentimental, que hoje se orgulha de não valer o sal do batizado. E gostaria que você estivesse aqui pra ver o que foi feito dela.
Mas não, acho que mesmo agora, diante de você eu teria no máximo 17, e te contaria quase tudo o que se passou comigo em tom confessional, como se falasse a um padre. Não arrempedida, mas provavelmente chorando e te implorando pela chance de viver ao seu lado mais algum tempo, quando também de novo não fariamos mas experimentaria outra vez aquele desejo pubescente e o não atrever. A delícia de te amar vegetarianamente...
Isso aqui não é de jeito nenhum uma declaração de culpa tão pouco um lamentar qualquer coisa, isso é uma reflexão que pude fazer num raro momento de paz. Uma tentativa de prever do final para o ínicio  alguns acontecimentos... coisa que gosto de fazer na minha inúltil busca por certezas. Quando na verdade tudo o que se pode ter é fé!

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