28 outubro 2009

Sonhos que envelhecem.




O que mata o sonho é a realização (coisa triste, não?). A vitória põe fim a vontade de vencer.
Por isso mesmo eu acho que adiei por dez anos você... quando me meti a realizar todos os sonhos de infância te deixei no fim da fila, sabia que ia ser o de sempre, gostava de te ter na minha agenda de prioridades. Até que acordei querendo confusão! E passei por onde eu sabia que você estava. Tanto tempo te observando me ensinou muito sobre seus hábitos, não errei em nada não é? Quando estava a caminho de onde você se esconde todos os dias sabia, se te achasse ali seria aquilo tudo!
E me permiti um gole, um trago e me estender noite a fora. Papo bom. "Moça você cresceu", cerveja gelada, noite quente, muita roupa... me permiti.
Mesmo você não tendo mais aqueles olhos verde-garrafa de guaraná Antártica, mesmo você não jogando mais sinuca descalço, com os cabelos desgrenhados e fumando pra caralho enfumaçando o bar onde eu comia meus ingênuos salgadinhos chips, absolutamente desejável na sua falta de intimidade com o pente, me contentando só com a visão daquele que ainda era o homem mais bonito que já tinha visto de perto (depois do papai, claro!).
Eu já era meio voyeur naquela época. Contei todas as namoradas que você teve, odiei todas elas! e me achava (imagine...) muito melhor do que elas todas ainda que você não tivesse se dado conta, eu sabia que era uma questão de tempo (claro! pedofilia já era crime...) contei quantos carros teve e gostei mais daquele fusca côr de abóbora, hoje me dou conta do quanto ele era horroroso! Mas muita coisa hoje não é do jeito que imaginava naquela época, as serras que cercam Belo Horizonte não são azuis quando se chega perto delas sabe?
Sei quantas brigas se meteu na rua e das cicatrizes que ganhava depois delas, que para mim eram lindas e coisa de macho mesmo... Escrevia poeminhas sobre você, todos faziam menção a esses seus olhos, que na falta de melhor definição eu sempre classifquei como verde-garrafa de guaraná Antártica.
E hoje é a ultima vez que escrevo sobre você. Só para celebrar, sabe como é né? Fiquei algum tempo sem te ver, você não estava mais tão bonito, naquela noite contei o tempo que passou nas marcas de expressão do seu rosto que eu nunca tinha visto tão de perto.
Ainda não me decidi se foi sujo ou maravilhoso o que fizemos.
Você era projeto e virou estatística. Mas foi gostoso e colorido, como os desenhos que eu assistia na tv quando te conheci.

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